domingo, 17 de fevereiro de 2008

"PAI, O MOÇO PRENDEU OS

SEUS PASSARINHOS"
Por Rildo Ferreira

O que passo a narrar agora aconteceu no dia em que chamei a atenção da minha pequena Eduarda sobre ficar com o gato no colo. Foi um caso que se tornou cômico ao mesmo tempo em que o empirismo dava prova cabal de que as crianças têm muito para nos ensinar, e nós adultos, muito para aprender com as crianças. Para isso precisamos nos despir da vaidade de achar que a vida já nos ensinou tudo o que nos basta para viver ético e dignamente.

Quando eu me levantei já encontrei acordada a minha filha Eduarda (foto, aos 2 anos). Na sala, com o dedinho polegar direito na boca e o Ervê no braço esquerdo junto ao corpo, Ervê é o gato siamês marron claro e de olhos azuis que minha pequena adora, depois de lhe desferir um
beijo e dizer bom dia flõr do dia!, e ela me responde: bom dia, paizinho, digo à ela que não deve ficar com o Ervê no braço argumentando que o gato solta pêlos e ela poderia levá-los à boca e lhe causar algum mal. Entramos num diálogo que não me sai da cabeça. Disse-me ela:

- Pai, porque você não gosta do Ervê.
- Minha filha, eu gosto, mas não se pode ficar com gato no braço.
- Mas você já disse que gato não deve ficar dentro de casa.
- Disse. Todos os animais são por natureza selvagens. Logo eles precisam viver no seu ambiente natural. Não gosto de animais dentro de casa.
- Então você não gosta do Ervê.
- Gosto do Ervê e de todos os animais. Só não é necessário tê-los dentro de casa.
- Mas você não gostaria de ter um bichinho, nem um gatinho, nem um passarinho...
- Mas eu já tenho. Sou dono de todos os animais.
- Mas você não disse que não gosta de animais?
- Eu gosto. Gosto tanto que todos os meus animais estão soltos e vivem livremente.

Da janela da sala era possível ver um casal de araras azuis que gralhava ao passar sobre nossa humilde casa. Eduarda prolonga o assunto.

- Então aqueles passarinhos são seus?
- São meus. Não é melhor vê-los voar assim livremente?

O assunto ficou esquecido na medida em que eu a levava para escovar os dentes e lhe escovava os cabelos –coisa que ela detesta. Pois bem. Em frente a minha casa um vizinho possui uma loja onde vende rações e alguns peixes ornamentais. Passados alguns dias dessa nossa inocente conversa sobre o domínio sobre os animais, este meu vizinho trouxe para a sua loja um viveiro com alguns periquitos. Eu assistia a um programa reprisado de um debate com o filósofo Mário Sérgio Cortella na TV da Assembléia Legislativa de Santa Catarina quando ela veio ao meu quarto e desferiu-me esta pérola o que me trouxe a escrever este artigo:

- Pai, o moço daquela loja ali prendeu os seus passarinhos.

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