sexta-feira, 30 de novembro de 2007

O que é ser criança no contexto de Ilha das Flores


Rildo Ferreira





Ilha das flores é um documentário que trata das questões ligadas à sociedade, seu modo de vida, suas prioridades e preferências e suas relações com os seus semelhantes.

A história começa com um japonês, o sr. Suzuki, que planta tomates para vende-los aos supermercados. Apresenta uma revendedora de perfumes e consumidora que compra no supermercado os tomates plantados pelo oriental. Dona Anete, a revendedora de perfumes, joga fora um dos tomates que considera não servir para a sua família e este tomate é levado a um vazadouro de lixo na cidade Ilha das Flores.

No que deveria ser o aterro sanitário, o lixo é despejado dentro de um terreno cercado onde o proprietário cria porcos. Na Ilha das Flores também tem seres humanos, criativamente caracterizados por Jorge Furtado, produtor do filme, como sendo seres que se diferenciam dos outros animais por possuírem três características: “...pelo telencéfalo altamente desenvolvido, pelo polegar opositor e por serem livres.” E acrescenta: “Livre é o estado daquele que tem liberdade. Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda..”

O terreno cercado e os porcos que vivem lá, por terem dono, são priorizados na busca de restos orgânicos do lixo. O que não serviu para alguns seres humanos e que também não serviu para os porcos que vivem no lixão de Ilha das Flores, servirão para os seres humanos que vivem lá, incluindo velhos, mulheres e crianças. É a partir daqui que começamos uma reflexão mais profunda. O que é ser criança no contexto do filme Ilha das Flores?

Ser criança é estar envolvido num ambiente familiar que permita um desenvolvimento biológico, psicológico e social. Nesta fase é que começamos a descobrir as coisas e a compreender o sentido delas em nossa vida. É ainda criança que se aprende a desenvolver a potencialidade humana ao mesmo tempo em que se descobre o mundo explorando o espaço e as coisas à sua volta familiarizando-se com as particularidades dos objetos como seu gosto, tamanho, profundidade, temperatura, textura, altura, cor e forma.

“Depois da exploração, a expressão da criança deixa de ser de perplexidade. Através do brincar, ela vai desenvolvendo habilidades, compreendendo como funcionam os diversos materiais, vai ampliando sua visão de mundo e construindo seu conhecimento.”(Mimura. 2007).

E quando a criança tem de lutar por sua sobrevivência, como as que lutam pela vida no filme Ilha das Flores? Qual é o ambiente familiar deste pequenino ser? Como compreender o sentido das coisas quando se faz necessário competir por elas? De fato, num contexto de miserabilidade como o demonstrado no documentário, não há o que ser compreendido. Antes, é preciso garantir a vida. Neste contexto, a infância está sendo suprimida da vida dos indivíduos, ainda que de pouca idade, empurrando-os para enfrentar a vida como se adultos fossem.

O conhecer as coisas para os pequenos sobreviventes de Ilha das Flores é diferente da proposta “Aprender a conhecer... aprender a aprender, exercitando os processos e habilidades cognitivas: atenção, memória e o pensamento mais complexo (comparação, análise, argumentação, avaliação crítica) (Davis.2002).

Avaliando a abordagem sócio-interacionista de Vygotsky, Rego afirma que “uma interação dialética que se dá desde o nascimento entre o ser humano e o meio social e cultural que se insere” é possível definir a característica da constituição humana. Isso nos remete à um outro questionamento: quais características se desejam de seres humanos vivendo em condições inapropriadas, de profunda miséria, sendo substituídas na prioridade por porcos?

Em Ilha das Flores, ser criança é não ter infância. É ter roubado o direito de conhecer o lúdico, de aprender a aprender, de interagir com um meio saudável; é ter suprimido a fase da conquista do conhecimento para lutar pela sobrevivência. Para finalizar, vamos resgatar um conceito de Demerval Saviano afirmando que “o processo educativo é passagem da desigualdade à igualdade”. Ou se diminui as profundas desigualdades sociais, ou muitas crianças jamais viverão sua infância.





Bibliografia

Mimura. Maria de Loudes Rosa. www.geocities.com/lourdes_mimura/sercrianca/sercrianca1.html

Davis. Claudia. Et al. Gestão da Escola. Desafios a enfrentar. Vieira. Sofia (Org). Rio de Janeiro. DP&ª 2002.

Rego. T. C. Vygotsky. Uma perspectiva histórico-cultural da Educação. Petrópolis. Vozes. 2004.

Saviano. Demerval. Escola e Democracia (Polêmicas do Nosso Tempo. 31A. ed. Campinas. SP. Autores Asociados. 1997.

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Merecemos mais investimentos ou não?


A informação está linkada neste blog na coluna de Notícias. Vale a pena visitar o gazetamercantil e conferir.


SÃO PAULO, 14 de novembro de 2007 - A Estácio Participações registrou um lucro líquido de R$ 28,4 milhões no terceiro trimestre, um aumento de 57,9% em relação ao mesmo período do ano passado. No acumulado do ano, o lucro foi de R$ 65,2 milhões, alta de 315,9% se comparado com o mesmo trimestre de 2006.

A informação é do site gazetamercantil e merece uma reflexão. Em alguns campus os alunos reclamam da falta de instrumentos áudio-visuais suficientes para atender a demanda. Em outros, a reclamação é quanto ao espaço mesmo. Em Queimados, por exemplo, há salas que foram projetadas para o ensino das séries iniciais. Espaço, lousa, iluminação, refrigeração, cadeiras, entre outras coisas são motivos de muita reclamação.

Com o lucro já de conhecimento público, é justo que algumas unidades reividiquem melhorias dos aparelhos pedagógicos. Ora, a utilização dos aparelhos (prédio, cadeiras, lousa, iluminação, projetores (data-show), vídeos (play) e novos aparelhos de tv serão utilizados pelos alunos mas continuarão a pertencer à instituição. Logo, não há com que se preocupar com o retorno. O patrimônio aumentado só proporciona melhores resultados para a instituição e os melhores resultados aparecerão quando os aparelhos estiverem disponíveis para o aprendizado dos milhares de alunos da Estácio.

domingo, 11 de novembro de 2007

As dificuldades do calouro na universidade

Contribuição para um debate sobre a Violência Simbólica do Estado de Educação Acadêmica
Rildo Ferreira




O impacto entre as culturas e o paradigma de ensino universitário para o calouro intróito na faculdade é muito grande. Os alunos concluintes do ensino de segundo grau não foram devidamente preparados para o enfrentamento do ensino acadêmico e grande parte fica desestimulado em virtude das diferenças encontradas. Os educadores, por sua vez, atuam como se ministrassem aulas para graduados experimentados com o mundo acadêmico. Alguns alunos reclamam de termos nunca antes ouvidos por eles e que fazem parte do cotidiano dos educadores que transmitem isso como se fosse muito comum nas ruas da cidade. Dialética e paradigma são as duas palavras mais utilizadas como exemplo para mostrar as dificuldades encontradas. “Eles falam isso como se isso fizesse parte do nosso vocabulário no dia-a-dia”, reclama um aluno de Pedagogia da Estácio de Sá, no Méier.
Outro motivo de reclamação deve ser atribuído aos trabalhos acadêmicos que precisam seguir as normas ABNT “mas eles só pedem. Não nos explicam que norma é essa. Essas dificuldades podem leva-lo à desistência e isto é uma dicotomia entre o discurso e a prática educativa”, disse o aluno concluindo que o primeiro período para o educando é fundamental para faze-lo permanecer na faculdade.
Com base nesse apanhado de informações argumentamos, então, algumas das necessidades importantes para um calouro no primeiro período de faculdade para a maioria dos cursos:
i) Português Interpretativo: que trata da interpretação e emprego dos termos comuns na linguagem acadêmica. Dialética, paradigma, epistemologia, entre outros, não só saber o significado mas exercitar o seu emprego diante da necessidade da construção de um texto ou discurso.
ii) Normas Técnicas para Trabalhos Acadêmicos: conhecer e aplicar as Normas Técnicas na apresentação dos trabalhos acadêmicos.
iii) Informática Aplicada na Educação: Além do conhecimento da utilização dos recursos para emprego na educação formadora, aprendizado quanto a utilização dos recursos tecnológicos para apresentação dos trabalhos acadêmicos.
iv) Técnicas de Pesquisa, Construção de Resumos, Resenhas e Fichamento: construir o saber da utilização desses métodos para a formação acadêmica.
v) Técnicas de Leitura: importante para o desinibir o aluno quando convidado a participar da construção do saber.
Sem esses conhecimentos básicos, alunos e alunas com perfil menos lapidado tendem a se sentirem menos inteligentes e consideram o mundo universitário para quem possui vocação. Logo, a tendência é o abatimento e, conseqüentemente, o abandono.

sábado, 10 de novembro de 2007

O Rei está nú!


Um debate contribuindo para definir a função da pré-escola
Rildo Ferreira

Miriam Abramovay e Sonia Kramer propõe um debate sobre as funções da pré-escola a partir de um conjunto de ações que permearam a pré-escola desde a sua introdução na segunda metade do século XIX. A implementação da educação infantil tinha o papel de solucionar os problemas da evasão e da repetência nas séries iniciais do 1º. grau. Assim, ela se apresenta como redentora, bandeira que se aposenta com um Programa Nacional de Educação Pré-Escolar e hasteia outra com objetivos em si mesma.

Tal pressuposto é colocado como objetivo da pré-escola sem o desenvolvimento de um processo de participação popular -estes são chamados a contribuir como voluntários-; sem um treinamento coeso e sistemático. Portanto, praticava-se aglutinar um conjunto (grande) de crianças em galpões e revezar voluntários para tomar conta das crianças sem qualquer preparação prévia.

Abramovay e kramer questionam se os professores já não possuem problemas suficientes nas séries iniciais, se não seria melhor cuidas desta etapa e deixar a pré-escola para as entidades de assistência social e se não é demanda populacional somente creches sem cunho pedagógico que libere as mulheres para o trabalho. Qual é o desafio agora? Discutir a função da pré-escola como contribuição dialética.

Quais foram as funções da pré-escola e quais paradigmas serviram para a implementação da pré-escola no Brasil?

a) Guardar as crianças: as grandes transformações sociais, econômicas e políticas européias a partir do século XVIII influenciam as creches com caráter assistencialista e serviam de guardiãs para crianças órfãs e filhas de trabalhadores.

b) Compensar as carências infantis: durante o século XIX, uma nova função é atribuída à educação pré-escolar, mais relacionada à idéia de educação do que de assistência. Essa pré-escola tem como função compensar as deficiências das crianças, sua miséria, a negligências de suas famílias, confundindo-se com as origens de educação compensatória.

Essa teoria, a da educação compensatória, ganha contornos mais nítidos depois da 2ª. Guerra mundial nos EUA e na Europa com a influência das teorias do desenvolvimento infantil e da psicanálise de um lado, e do outro, com abordagem da privação cultural, os estudos lingüísticos e antropológicos. Esta última fortalece o pré-conceito de que a pré-escola seria incapaz de suprir as ‘carências’, ‘deficiências’ culturais, lingüísticas e afetivas das crianças oriundas das classes populares.

Então a pré-escola era vista como preparatória e que resolveria o problema do fracasso que afetava as crianças negras e filhas de migrantes naqueles países. As crianças das classes populares eram vistas com preconceito e as classes dominantes encobriam os conceitos ideológicos que promovia a divisão de classes. Era preciso adestrar as crianças nas habilidades e conhecimentos que não dominavam e isso estava vinculado à compensação das carências infantis.


Na década de 70, do século passado, essa concepção de pré-escola chega ao nosso país. No discurso oficial “...as crianças ...apresentam-se destituídas das noções de lateralidade, de alto e baixo, sem coordenação motora, sem vocabulário, sem comunicação e sem sociabilidade. Isso obriga que as escolas, quando bem orientadas, o que ocorre em proporção aquém do desejável, percam alguns meses, no início do ano letivo, na tentativa de compensar em parte essas carências com a ministração de atividades preparatórias da alfabetização.”

As autoras citam Ferrari e Gaspary que mostraram que a expansão das matrículas para o ensino infantil privilegiava os menos carentes, atendendo, inicialmente, crianças dos grupos populacionais com poder aquisitivo para custear a pré-escola particular e, lentamente, ir se estendendo essa educação às grandes massas.

Essa educação compensatória partiu de uma idéia de que as famílias não conseguem dar às crianças condições para o seu bom desempenho na escola. As crianças são consideradas deficientes culturalmente seguindo um princípio de que lhes faltam elementos básicos que lhes garantam sucesso escolar. A partir desse princípio, a pré-escola poderia suprir as carências culturais, nutricionais, afetivas, e garantir uma igualdade de oportunidades a todas as crianças.

Mas essa política compensatória, assim como a teoria da privação cultural, têm sido questionada nos últimos anos na medida que não servem como benefício efetivo às crianças das classes populares, mas contribuiu para discriminá-las e marginalizá-las precocemente. Essas críticas foram incorporadas nos discursos oficiais e propõe o desenvolvimento global e harmônico da criança de acordo com suas características físicas e psicológicas (a pré-escola com objetivos em si mesma).

Citam o Programa Nacional de Educação Pré-Escolar para mostrar que ele está cheio de inconsistência e, ao contrário de atacar o problema na sua essência, ele reproduz a teoria da política compensatória revestido com uma roupagem nova. É, aqui, que a autora propõe concluindo que ‘o rei está nu!’.

Ora, com esse paradigma, a pré-escola tinha como objetivo superar os problemas de cunho social, e estes, por tabela, os educacionais. A dialética sobre que tipo de educação infantil traria reais contribuições às crianças das classes populares é colocada à margem, pois a pré-escola é considerada importante em si e por si mesma. E onde ficam as questões como “quantidade de alunos por unidade, de forma a garantir um trabalho sistemático de acompanhamento das crianças; estratégias de treinamento –e suporte técnico- que assegurem uma prática pedagógica consistente; um sistema de supervisão contínua que permita um repensar das práticas desenvolvidas; formas de avaliação –que envolvam as pessoas dos diversos níveis do programa- capazes de oferecer subsídios para a sua reestruturação; efetiva vinculação trabalhista que substitua o voluntariado das mães?

Para Jobim e Souza e Kraemer, é preciso avançar na democratização da pré-escola priorizando as classes populares sem marginalizar as outras classes, promovendo uma pré-escola com função pedagógica onde seja possível instrumentalizar as crianças tomando a “realidade e os conhecimentos infantis como ponto de partida, e os amplia, através de atividades que têm um significado concreto para a vida das crianças e que, simultaneamente, asseguram a aquisição de novos conhecimentos.”

O papel da pré-escola se degenera quando a psicologização e a medicalização das relações intra-escolares declinam hábitos que se tornam mais importantes que o ‘simples’ ensinar. A inversão da prioridade pedagógica, aquilo que Dermeval Saviani explica na “teoria da curvatura da vara”, aponta para uma prática de hábitos que promovam o “incentivo à criatividade e à descoberta das crianças, ao jogo e à espontaneidade” que proporcionem as realizações infantis.

Um programa que contemple uma práxis pedagógica focada no “incentivo à criatividade e à descoberta das crianças, ao jogo e à espontaneidade” requer capacitação (antes e durante); supervisão sem desprezar a dotação de recursos financeiros específicos e uma definição da carreira de Recursos Humanos.

Isso implica que reconhecer que, na prática, para favorecer o processo de alfabetização, é preciso transpor as barreiras da escrita, da leitura e do cálculo e permitir a manifestação da criança tratando da sua realidade e dos objetos que estão ao seu alcance., tornando a escrita, a leitura e o cálculo, partes integrantes de um processo pedagógico que começa com as complexidades sensoriais e motoras no início, seguida de representação simbólica, dramatização, construção, modelagem, reconhecimento de figuras e símbolos e o desenvolvimento da linguagem, até a formação de um pensamento lógico.


Bibliografia
Jobim e Souza. Solange. Kramer. Sonia. Educação ou Tutela? A criança de 0 a 6 anos. Loyola. 2ª. Ed. ?.?.

sábado, 3 de novembro de 2007

Pobre Datena! É de dar dó...



Esse cara aí do lado (foto) é o José Luiz Datena, jornalista (?) e apresentador do Brasil Urgente! da Rede Bandeirantes. Quando no episódio da explosão do avião da TAM, o pobre coitado primeiro condenou o governo federal e, na medida em que as informações eram atualizadas, o sr. procurador de ninguém tentava justificar buscando sempre a quem condenar como se arbitrasse em defesa de alguém.

Quando o presidente LULA e 12 governadores foram à Zurique para o anúncio da Copa do Mundo no Brasil em 2014 resolveu condena-los com o discurso de gasto desnecessário e muita coisa pra fazer no Brasil e, portanto, eles tinham que ficar no Brasil e trabalhar, "por que é isso que o povo espera deles."

Ora senhoras e senhores! Vocês imaginam quanta coisa precisa ser feita para a realização da Copa 2014 no Brasil? Bem, essas coisas são pra gringo ver. Tá. É isso mesmo! É pra gringo ver. Acontece que os gringos não vão pegar o Metrô que será feito em São Paulo, os estádios que serão reformados, os hospitais que serão construídos, os estacionamentos, os shoppings e vão levar com eles quando voltarem para seus países. Essas coisas ficarão conosco para nosso usufruto, caramba!

E já imaginaram quantos empregos serão criados na construção de toda essa estrutura? Não é à toa que na China até curso de inglês público, gratuito e para todos eles estão oferecendo à população para as Olimpíadas de Pequim. Lá gastou-se bilhões e eles entendem que é uma forma do país crescer e oferecer-se em condições no processo de globalização.

Eu queria mais ousadia de todos os governos envolvidos (o federal e os estaduais que sediarão os jogos) fizessem como os chineses e oferecessem cursos gratuitos de inglês para quem quizesse desde que fossem voluntários para receber os turistas (que não serão poucos - percebem críticos inconsequentes?) em 2014.

Pobre Datena! Logo ele que já atuou no meio esportivo e deveria saber o quanto esse evento é importante para os milhares de atletas brasileiros e outros milhares ainda anônimos que buscam uma referência para deixarem as ruas, as drogas, e tentarem um caminho novo. E tudo o que precisam é de uma oportunidade. Quem sabe não seja esta?