domingo, 6 de janeiro de 2008

O ódio deles é reconhecer que mesmo 'muito estudados' não conseguiram fazer o que o 'analfabeto' faz pelo Brasil
Este artigo foi postado originalmente no Grupo Beatrice e escrito por Bernardo Kucinski (*). Diz ele:


"Virou moda dizer que "Lula (foto) não entende das coisas". Ou "confundiu isso com aquilo". É a linguagem do preconceito, adotada até mesmo por jornalistas ilustres e escritores consagrados

(...) "É uma pena que o presidente Lula não seja nordestino, portanto não conheça bem a farta presença sociocultural do caju naquela remota região do país...", escreveu João Ubaldo. Alegou que Lula não era nordestino porque tinha vindo ainda pequeno para São Paulo. E em seguida esparramou citações sobre o caju, para mostrar sua própria erudição. Estou falando de João Ubaldo porque, além de escritor notável, ele já foi um grande jornalista.

Outro jornalista ilustre, o querido Mino Carta, escreveu que Lula "confunde" parlamentarismo com presidencialismo. "Seria bom", disse Mino, "que alguém se dispusesse a explicar ao nosso presidente que no parlamentarismo o partido vencedor das eleições assume a chefia do governo por meio de seu líder..." Essa do Mino me fez lembrar outra ocasião, no Instituto Cidadania, em que Lula defendeu o parlamentarismo.

(...) Alguns jornalistas sabem que Lula não é nem um pouco ignorante, mas propagam essa tese por malandragem política. Nesse caso, pode-se dizer que é uma postura contrária à ética jornalística, mas não que seja preconceituosa. Aproveitam qualquer exclamação ou uso de linguagem figurada de Lula para dizer que ele é ignorante. "Por que Lula não se informa antes de falar?", escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando Lula disse que o caso da menina presa junto com homens no Pará "parecia coisa de ficção". Quando Lula disse, até com originalidade, que ainda faltava à política externa brasileira achar "o ponto G", William Waack escreveu: "Ficou claro que o presidente brasileiro não sabe o que é o ponto G".

Outra expressão preconceituosa que pegou é "Lula confunde". A tal ponto que jornalistas passam a usar essa expressão para fazer seus próprios jogos de palavras. "Lula confunde agitação com trabalho", escreveu Lucia Hippolito. Empregam o "confunde" para desqualificar uma posição programática do presidente com a qual não concordam. "O presidente confunde choque de gestão com aumento de contratações", diz o consultor José Pastore, fonte habitual da imprensa conservadora.

Confunde coisa alguma. Os neoliberais querem reduzir o tamanho do Estado, o presidente quer aumentar. Quer contratar mais médicos, professores, biólogos para o Ibama. É uma divergência programática.

(...) A linguagem do preconceito contra Lula sofisticou-se a tal ponto que adquiriu novas dimensões, entre elas a de que Lula teria até problemas de aprendizagem ou de compreensão da realidade. Ora, justamente por ter tido pouca educação formal, Lula só chegou aonde chegou por captar rapidamente novos conhecimentos, além de ter memória de elefante e intuição. Mas, na linguagem do preconceito, "Lula já não consegue mais encadear frases com alguma conseqüência lógica", como escreveu Paulo Ghiraldelli (artigos anteriores debatemos sobre ele), apresentado como filósofo na página de comentários importantes do Estadão. Ou, como escreveu Rolf Kunz, jornalista especializado em economia e também professor de filosofia: "Lula não se conforma com o fato de, mesmo sendo presidente, não entender o que ocorre à sua volta".

Como nasceu a linguagem do preconceito? As investidas vêm de longe. Mas o predomínio dessa linguagem na crônica política só se deu depois de Lula ter sido eleito presidente, e a partir de falas de políticos do PSDB e dos que hoje se autodenominam Democratas. "O presidente Lula não sabe o que é pacto federativo", disse Serra, no ano passado. E continuam a falar: "O presidente Lula não sabe distinguir a ordem das prioridades", escreveu Gilberto de Mello. "O presidente Lula em cinco anos não aprendeu lições básicas de gestão", escreveu Everardo Maciel na Gazeta Mercantil.

A tese de que Lula "confunde" presidencialismo com parlamentarismo foi enunciada primeiro por Rodrigo Maia, logo depois por César Maia, e só então repetida pelos jornalistas. Um deles, Daniel Piza, dias depois dessas falas, escreveu que "só mesmo Lula, que não sabe a diferença entre presidencialismo e parlamentarismo, pode achar que um governante ter a aprovação da maioria é o mesmo que ser uma democracia no seu sentido exato".

Preconceito é juízo de valor que se faz sem conhecer os fatos. Em geral é fruto de uma generalização ou de um senso comum rebaixado. O preconceito contra Lula tem pelo menos duas raízes: a visão de classe, de que todo operário é ignorante, e a supervalorização do saber erudito, em detrimento de outras formas de saber, tais como o saber popular ou o que advém da experiência ou do exercício da liderança. Também não se aceita a possibilidade de as pessoas transitarem por formas diferentes de saber.

(...) Não atino com o sentido dessa mentira, exceto se o objetivo é difamar uma liderança operária, o que é, convenhamos, uma explicação pobre. Talvez as elites, e com elas os jornalistas, não consigam aceitar que o presidente, ao estudar um problema com seus ministros, esteja trabalhando, já que ele é " incapaz de entender" o tal problema. Ou achem que, ao representar o Estado ou o país, esteja apenas passeando. Afinal, onde já se viu um operário, além do mais ignorante, representar um país?"



  • (*) Bernardo Kucinski é professor titular do Departamento de Jornalismo e Editoração da ECA/USP. Foi produtor e locutor no serviço brasileiro da BBC de Londres e assistente de direção na televisão BBC. É autor de vários livros sobre jornalismo.

EU COMENTO
Esse discurso modal apresentado pelo educador Kucinski é um discurso ideológico que mostra perfeitamente que há uma elite cuja hegemonia foi profundamente abalada com a eleição de LULA. Esse abalo estrutural na hegemonia de uma classe opressora, que procura manter as diferenças sociais gritantes provoca o ajuntamento desse grupo bastante eclético onde escritores, jornalistas, empresários e políticos se fazem representar buscando recuperar a solidez hegemônica.

E para que se buscam recuperar a solidez da hegemonia já perdida? Ora, para reproduzirem o Estado tal qual era antes de LULA, onde só ganhavam os empresários, banqueiros e as multinacionais e garantiam o privilégio desta classe, ainda que para tal coisa fosse necessário sacrificar milhares de brasileiros na linha de miséria.

Inacreditável é que esse discurso ganha oposição no discurso seguinte que eles mesmos pronunciam. A
bovespa ano passado foi a segunda do mundo em movimentação de negócios; a venda de carros novos foi recorde - e continuam a vender carros – (notícia do Jornal Nacional do dia 04/01); os bancos tiveram lucros fantásticos; o risco-país tem o menor valor da sua história aumentando a confiança do mundo na economia brasileira; a entrada de dólares superou todos os recordes dos últimos 24 anos e mais de 2 milhões de pessoas saíram da linha de miséria. E tudo isso aconteceu num governo onde o presidente ‘confunde’, ‘não sabe’, ‘não se conforma’, ‘não consegue’, ‘não se informa’ etc, etc, etc.

Cheguei a seguinte conclusão: se o país está indo ‘muito bem, obrigado’ sob um governo que confunde, não sabe, não se conforma, não consegue, não se informa, não aprende etc., eu até acho bom que o presidente continue a confundir, não saber, não se conformar, não conseguir etc. Porque antes do LULA tinha um governo que sabia tudo, entendia tudo e o país tinha milhares de miseráveis, a inflação beirava aos 20 % ao ano, os trabalhadores não tinham renda, a cesta básica consumia mais de um salário mínimo, os jovens não tinham emprego nem perspectiva, os jovens não tinham acesso ao ensino superior, os serviços públicos foram sucateados para a promoção da privatização e o ‘enxugamento da máquina estatal’, e mais um monte de coisas que este blog não teria espaço para enumerar. Logo, não saber passou a ser importante para o país porque, convenhamos, estamos muito melhor hoje do que até o final do ano de 2002. E digo melhor para os empresários, banqueiros, investidores e a sociedade em geral. Todos tivemos ganhos significativos nos anos de governo LULA.

Para concluir vou utilizar de um fragmento de Mazzotti & Oliveira* (2002), que sob a coordenação do filósofo de São Paulo Paulo Ghiraldelli disseram: “...É a mesma situação do orador frente ao seu auditório: para um dado auditório um certo orador pode ser considerado ridículo, e para outro a expressão de toda a inteligência do mundo...”. Com isso quero dizer que LULA pode ser o ignorante subscrito por estes arautos do saber, mas para a maioria ABSOLUTA do povo brasileiro ele é a esperança que venceu o medo.



2 comentários:

Anônimo disse...

Lula, o dublê trapalhão

É no que dá Lula se meter a coordenador político do governo. Mais de uma vez nos últimos cinco anos ele chegou para o articulador de plantão (José Dirceu, Aldo Rebelo, Jacques Wagner ou Mares Guia) e disse: "Deixe comigo". No caso do atual, José Múcio Monteiro, ministro das Relações Institucionais, sequer disse isso. Resultado? Deu merda.

Em um governo normal, digamos assim, comandado por um presidente normal, seria inconcebível o anúncio de medidas econômicas de forte impacto na vida das pessoas e destinadas a provocar barulho no Congresso sem que o ministro encarregado de se entender com deputados e senadores fosse consultado antes a respeito. E pudesse opinar sobre a conveniência delas.

Pois José Múcio não foi. A direção do Banco do Brasil, por exemplo, também foi pega de surpresa. Lula telefonou para seu principal conselheiro político somente depois que as medidas haviam sido anunciadas. Foi um ato de gentileza de Lula, inútil e grosseiro, na linha da soberba e da falta de bons modos com as quais costuma tratar seus auxiliares. Ele não quis ouvir José Múcio desaconselhá-lo a fazer o que fez.

Santo Deus! Como pode alguém que manifestara há pouco sua “ojeriza” a pacotes econômicos desembrulhar um da noite para o dia? Como pode taxar de “loucura” o aumento da carga tributária para logo em seguida aumentá-la? Como pode celebrar o espetáculo inédito do crescimento do consumo nunca visto antes na história deste país e adotar duras providências capazes de esfriá-lo?

Ora, pensando melhor, quem se orgulha de ser uma “metamorfose ambulante” pode, sim, dizer uma coisa e fazer outra. Para montar seu primeiro governo, Lula autorizou José Dirceu, futuro ministro da Casa Civil, a acertar-se com o PMDB. Quando tudo estava nos trinques, desautorizou o principal responsável por sua eleição e preferiu comprar no varejo o apoio de pequenos partidos. Deu no quê? No mensalão.

Aí Lula decidiu interferir na eleição do presidente da Câmara dos Deputados, mal havia subido pela primeira vez a rampa do Palácio do Planalto. O problema era simples: unificar o PT em torno de um candidato único. Fracassou. Deu no quê? Na eleição de Severino Cavalcanti (PP), que renunciaria ao cargo e ao mandato para não ser cassado por quebra de decoro. Embolsara um suborno merreca do dono de um restaurante.

Aldo Rebelo (PC do B) foi um coordenador político do governo vítima em tempo integral da ação do PT que o sabotava. Lula não se mexeu para preservar a autoridade dele. E quando Rebelo, mais tarde, precisou de apoio para se reeleger presidente da Câmara, Lula largou-o de mão. Deu no quê? Rebelo afastou-se de Lula. Está ocupado em minar a aliança de partidos que apóiam o governo, ajudando Ciro Gomes (PSB) a se eleger presidente.

Lula jamais acreditou nas chances de Jacques Wagner de ganhar o governo da Bahia. Desaconselhou-o a ser candidato. Preferia tê-lo como coordenador político do governo para atropelá-lo quando quisesse – assim como fizera com Dirceu e Rebelo. Wagner foi eleito no primeiro turno. É justo reconhecer que pesou na sua eleição a determinação de Lula em derrotar o então senador Antonio Carlos Magalhães (DEM), com quem rompera.

Mares Guia foi um coordenador político à imagem e perfeição do que desejava Lula. Não o contrariava. E só lhe dava boas notícias. No que deu? Acabou abatido pela denúncia de envolvimento no caso do mensalão. O do PT? Não. O do PSDB mineiro. Espantoso! E a CPMF, que ele considerava no papo, o gato comeu. Esse, por sinal, foi o maior desastre desenhado até aqui pelo próprio Lula, dublê de presidente e de coordenador político.

Ainda há tempo para que Lula crie o Ministério do Vai Dar Merda proposto há anos pelo compositor Chico Buarque. Em nada comprometeria o corte de despesas. A única coisa que se exigiria do novo ministro é que tivesse bom senso. E de Lula que de fato o escutasse. Seria pedir muito a Lula? Desconfio que sim. Ele atingiu o nirvana. Dele só sairá se mudar a ainda favorável conjuntura econômica internacional.

Anônimo disse...

O que esse texto ridículo quer dizer é que o LULA (um semi-alfabetizado), é que sabe das coisas???

Pelo amor de Deus, de onde vem tanta ignorância para tal afirmação exdrúxula?

O próprio LULA, em TODAS as vezes em que foi candidato, nos debates, sempre utilizou o discurso de que seu governo seria supostamente melhor, porque supostamente teria ao seu lado "as cabeças pensantes" deste país.

O que ocorre é que as "cabeças pensantes" de fato pensam, e pensam que o neoliberalismo não é a melhor coisa para o país e para o povo deste país. LULA quando fez a opção neoliberal no seu primeiro mandato, expulsou do governo as tais "cabeças pensantes" em que ele se garantia.

Ficou com os corruptos! Basta ver os casos que se sucederam após a debandada dos ideólogos que houve no Governo. Ai veio mensalão, caixa 2, dólar na cueca, compra de dossiê e tudo o mais que achávamos que era privilégio da direita.

LULA, nunca foi um político exemplar. Como Deputado passou pelo Congresso Nacional como um fantasma. Como Presidente não tem demonstrado a capacidade de articulador que supostamente tinha como líder sindical. Sempre que mete a mão diretamente para mediar um problema, resulta em equívocos e com prejuízos para o País (Veja o caso do Gás na Bolívia, CPMF, etc, etc, etc).

LULA sempre foi limitado, sempre teve ao seu favor o carisma e de ser a esperança de uma horda de militantes que acreditavam que ele seria a mudança de fato!

Essa pessoas, que investiram mais do que sua paixão, foram avalizadores do projeto político de LULA, hoje andam cabisbaixo e, na maioria das vezes, se omitem de ter que discutir sobre este governo e sobre o LULA. Viraram lugar comum.

Agora o que me espanta é imaginar que ainda existe alguém que acredita que o LULA é o expoente de algum pensamento ou o expoente de algum ponto de vista que signifique algo para o país. Hoje ele é fantoche dos caciques do PMDB e dos corruptos do PT e só fala a lingua dessas pessoas que é "manter o poder a qualquer preço". Manter o poder significa dar míseros trocados para o povo mais necessitado, na esperança que isso se reverta em votos nas eleições.

LULA é um semi-alfabetizado que chegou ao poder pelo seu carisma. Como teórico, tem se mostrado um pouco melhor do que uma AMEBA ou uma ÁGUA-Viva. Tudo o que ele fala, tem que ser desmentido depois, para manter a governabilidae....