sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Crise da razão?

Por Rildo Ferreira



Em 19/02/08, Paulo Ghiraldelli escreveu: "...qual a razão de ainda termos intelectuais e políticos, em nosso país, e até mesmo no governo, que falam de Cuba como se estivessem falando do Paraíso? Simples desinformação? Miopia ideológica misturada a algum tipo de esquizofrenia? Ou apenas oportunismo, para manter bases eleitorais que ainda possam existir em grupos estudantis?"

Lendo esta análise do filósofo de São Paulo, fiquei pensando em qual das alternativas acima o arquiteto Oscar Niemeyer se enquadra. Será que depois de todo o esforço dispensado para fazer deste país um lugar mais justo, mais humano o cara ficou desinformado? Será que o seu centenário de vida o deixou míope e esquizofrênico? Será um oportunismo para ainda explorar eleitoralmente grupos estudantis? Estou em dúvidas.

Pensava que o nosso ícone da arquitetura, reconhecido mundialmente por seu imenso trabalho artístico e filosófico em sua área de conhecimento considerava CUBA por ser uma ilha que não se rendeu ao capitalismo que esgarça as diferenças, corrompe famílias e vidas, manipulam idéias e destroem sonhos para promover uma política onde não há meninos mendigando nas ruas, onde a educação é gratuita e universal, levando o jovem das séries inicias à universidade, garantindo a todos um sistema de saúde reconhecido mundialmente e resistindo bravamente contra as investidas norte-americanas.

Eu pensava que um intelectual do nível de Niemeyer não defendia um sistema ditatorial (Não só em Cuba como em qualquer país do mundo) para estar do lado de um sistema onde as pessoas são humanas e não números, apesar de todo o trabalho que o capitalismo fez para corromper os cubanos, limitando o direito de Cuba interagir com o resto do mundo. Com as palavras do filósofo de São Paulo, minhas interrogações aumentaram e minha curiosidade também. O que leva intelectuais e políticos, em nosso país, falar de Cuba como se fosse um lugar tranqüilo para se viver?

Um outro filósofo a quem conheço apenas pelo nome de Gustavo respondendo à esse artigo disse "Além disso, Niemeyer não é um "grande intelectual"". Ora, eis que agora estou em dúvidas sobre o que vem a ser intelectual. Seriam filósofos?

IMAGEM (EDITADA): http://www.suapesquisa.com/biografias/fidel_castro.htm ___________________________________________
PARA COMENTAR ESTE ARTIGO, CLIQUE AQUI.
PARA LER ARTIGOS POSTADOS, CLIQUE AQUI.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

"PAI, O MOÇO PRENDEU OS

SEUS PASSARINHOS"
Por Rildo Ferreira

O que passo a narrar agora aconteceu no dia em que chamei a atenção da minha pequena Eduarda sobre ficar com o gato no colo. Foi um caso que se tornou cômico ao mesmo tempo em que o empirismo dava prova cabal de que as crianças têm muito para nos ensinar, e nós adultos, muito para aprender com as crianças. Para isso precisamos nos despir da vaidade de achar que a vida já nos ensinou tudo o que nos basta para viver ético e dignamente.

Quando eu me levantei já encontrei acordada a minha filha Eduarda (foto, aos 2 anos). Na sala, com o dedinho polegar direito na boca e o Ervê no braço esquerdo junto ao corpo, Ervê é o gato siamês marron claro e de olhos azuis que minha pequena adora, depois de lhe desferir um
beijo e dizer bom dia flõr do dia!, e ela me responde: bom dia, paizinho, digo à ela que não deve ficar com o Ervê no braço argumentando que o gato solta pêlos e ela poderia levá-los à boca e lhe causar algum mal. Entramos num diálogo que não me sai da cabeça. Disse-me ela:

- Pai, porque você não gosta do Ervê.
- Minha filha, eu gosto, mas não se pode ficar com gato no braço.
- Mas você já disse que gato não deve ficar dentro de casa.
- Disse. Todos os animais são por natureza selvagens. Logo eles precisam viver no seu ambiente natural. Não gosto de animais dentro de casa.
- Então você não gosta do Ervê.
- Gosto do Ervê e de todos os animais. Só não é necessário tê-los dentro de casa.
- Mas você não gostaria de ter um bichinho, nem um gatinho, nem um passarinho...
- Mas eu já tenho. Sou dono de todos os animais.
- Mas você não disse que não gosta de animais?
- Eu gosto. Gosto tanto que todos os meus animais estão soltos e vivem livremente.

Da janela da sala era possível ver um casal de araras azuis que gralhava ao passar sobre nossa humilde casa. Eduarda prolonga o assunto.

- Então aqueles passarinhos são seus?
- São meus. Não é melhor vê-los voar assim livremente?

O assunto ficou esquecido na medida em que eu a levava para escovar os dentes e lhe escovava os cabelos –coisa que ela detesta. Pois bem. Em frente a minha casa um vizinho possui uma loja onde vende rações e alguns peixes ornamentais. Passados alguns dias dessa nossa inocente conversa sobre o domínio sobre os animais, este meu vizinho trouxe para a sua loja um viveiro com alguns periquitos. Eu assistia a um programa reprisado de um debate com o filósofo Mário Sérgio Cortella na TV da Assembléia Legislativa de Santa Catarina quando ela veio ao meu quarto e desferiu-me esta pérola o que me trouxe a escrever este artigo:

- Pai, o moço daquela loja ali prendeu os seus passarinhos.

_______________________________________
PARA COMENTAR ESTE ARTIGO, CLIQUE AQUI.
PARA LER ARTIGOS POSTADOS, CLIQUE AQUI.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008




SOMOS RACISTAS ?
Por Rildo Ferreira


Preciso fazer uma comparação, o que para muitos pode parecer um esdrúxulo, mas que, no meu modo de ver, tem uma essência muito similar. Trata-se de reconhecer que todos fomos educados para sermos racistas, assim como um indivíduo doente de alcoolismo precisa reconhecer sua moléstia. E estou secamente dizendo que somos todos afetados por esta moléstia que conhecemos como racismo.

Ora, Von Martius Varnhagen, conhecido como heródoto do Brasil, com uma visão estreitamente lusitana escreve-nos: "Sem amor à pátria, essa gentes vagabundas... constituíam no entanto uma só raça, falavam dialetos de uma só língua. (Quanto aos negros) Para ele, os traficantes negreiros fizeram um grande mal ao Brasil entulhando as suas cidades do litoral e engenhos de negrarias" (Reis. 2001).

Com efeito, sob esta bandeira racista começou-se a escrever a História do Brasil. Logo, nossa educação foi uma educação racista. Os negros e nativos, por sua vez, buscavam suas defesas alimentando um racismo contra os brancos.
Eis que a comparação que faço é esta: o racismo está para todos assim como o alcolismo está para o alcoólatra. Se no alcolismo faz-se necessário reconhecer-se como um doente que precisa de ajuda e, portanto, o faz todos os dias em confissão de ser um alcoólatra para redimir-se da moléstia, nós, racistas que somos, precisamos nos reconhecer doentes de racismo confessando-nos todos os dias para evitar o primeiro ato de racismo. Nossa profissão de fé deveria ser: "Sou racista. Fui educado para ser racista. Ao reconhecer minha condição de racista, penitencio-me todos os dias com a lembrança de que sou racista para evitar um ato de racismo e assim não me permitir manifestações que ofendam, aviltam e desqualificam os que são diferentes de mim”.


REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagem a FHC. 4ª ed. – Rio de Janeiro: FGV. 2001

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008


Exercitar o cérebro

sem abolir o vídeo game

Por Rildo Ferreira

Senhoras e senhores. Vejam vocês como a língua portuguesa precisa ser explicada quando escrita. Sobre o assunto Infâncias de ontem e de hoje: diferenças determinantes, não houve a intenção de questionar os avanços tecnológicos; não era a intenção discutir a influência mercantilista em nossas vidas e menos ainda chorar porque não controlo minha filha. E não controlo mesmo! Ela não nasceu para ser controlada, mas para ser educada e viver livremente.

Então qual era a intenção de rever minha infância e compara-la à infância de hoje?

Ora, eu procurei mostrar que as minhas dificuldades me levaram a exercitar o cérebro, criar meus próprios brinquedos, inventar algumas histórias. Ouvíamos os "velhos" com atenção. Suas narrativas aguçavam nossas imaginações. Quantas vezes ouvimos histórias de alguém que caminhava numa estrada escura quando voltava de um determinado evento, e ao caminhar ouvia barulhos repetitivos como se alguém o seguisse. Não conseguindo ver quem o seguia, apressava o passo e quanto mais veloz seguia, mais veloz os sons se repetiam. Somente ao chegar em casa sentia-se aliviado. Vez por outra alguém dizia que era o barulho da própria calça que resvalava uma perna na outra. Isso aos nossos ouvidos era fantástico. Reproduzíamos essas histórias com mais requinte de sinistros.

Bem, alguém (me perdoe por não lembar o nome agora) disse em uma resposta que os vídeos games são também educativos. Há controvérsias. Estou ainda muito cético quanto ao caráter pedagógico dos games. E por que eu digo isto? Assim como Piaget eu também adoto meus filhos como "objetos" de constante estudo. Minha filha utiliza um site chinês com "jogos educativos". Analisando o comportamento dela cheguei a conclusão de que ela apenas repete aquilo que o game pede que ela faça, ou seja, quando aparece um lápis, ela clica numa palavra, digamos, "chair". E o game diz que ela errou e precisa tentar novamente. Depois ela clica em "cup" e o game diz que ela errou e precisa tentar novamente. Esse processo se repete até que ela clica na palavra "pencil" e o game manifesa aplausos e gritos de "Ok! You Win". Ora bolas, "Para explicar por que um macaco aprendia a resolver um jogo de encaixes, os psicólogos usavam expressões confusas - será que o macaco 'pensava' ou procedia por 'ensaio e erro' para achar a solução? - ao passo que o óbvio seria conceituar que o animal simplesmente repete comportamentos que são bem-sucedidos, aqueles que têm como consequência a aquisição de uma banana, por exemplo (Cunha, 2001*)".

Com efeito, o que nos lembra a gaiola de Burhus F. Skiner com seus ratos e o Condicionamento Operante? Esse condicionamento não está presente nos games? Quando a criança não alcança o objetivo (que é o de receber os aplausos e os gritinhos de "você venceu!") ela volta a fase anterior e repete o procedimento com uma alternativa diferente. Agora, convenhamos, isso é educação ou adestramento? Normalmente os games adestram. Os jogadores repetem seus movimentos até que ele alcance o seu objetivo. Uma vez conquistado ele busca um nível mais elevado. Entretanto, ao concluir uma fase, há que ser questionado qual foi o aprendizado adiquirido. Não sou contra os videos games. Não sou contra a tecnologia. Concordo com todos que pensam que esses novos instrumentos precisam estar presente na vida das crianças e em sala de aula, inclusive, estando, assim, de acordo com o que disse Eiterer "Não creio que devemos dispensar essas tecnologias. Usar essas tecnologias se tornou um imperativo porque elas facilitam demais ações que antes demandavam muito tempo e muita gente". Mas ainda preciso ser convencido de que há jogos que educam de fato e não adestram, como penso.

Vejam que se penso desta forma não pretendo tirar os vídeos games das crianças. Meus filhos usam o computador para entretenimento com jogos diversos. Mas eu não abro mão de ler algumas histórias para fazê-los dormir. Não abro mão de reiventar minha infância fazendo os brinquedos que eu fazia como carrinhos, casinhas, cata-ventos etc. Estou tentando fazer com que exercitem a capacidade de pensar, de inovar, de inventar, de criar suas próprias histórias. Minhas filhas de 13 anos (uma biológica outra adotiva) eu as estimulo a escrever suas opiniões quanto ao dia em que viveram narrando o que foi bom e o que foi ruim. Cada vez que elas buscam seus cadernos para registrar um fato é um exercício mental, reflexivo. Eis a questão eloqüente. Reflexão.

Minha filha de 5 anos, vendo o comercial da Globo News onde aparece personagens entre aspas, me questionou sobre o que vem a ser opinião. Logo hoje, ao fazer um pequeno reparo em frente a garagem ela me questionou o porquê eu fazia aquilo. Ao responder que era para que o carro da mamãe não atolasse ela me disse: "Eu não sei o que é atolar". Pois bem. Esses dois exemplos já mostram que mesmo usando os games para entretenimento, a minha participação é fundamental para que ela não seja adestrada, mas seja capaz de questionar, de procurar entender as coisas. Essa é a minha preocupação com as crianças que são "deixadas" nos vídeos games para "não dar trabalho", não atrapalhar o papai com a cerveja nem a mamãe com a novela.

______________________________________
(*) CUNHA, Marcos Vinicius da. Psicologia da Educação. Rio de Janeiro. DP&A, 2002.
Desenho: Eduarda Moreira, se retratando.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Infâncias de ontem e de hoje:
.
diferenças determinantes
por Rildo Ferreira





Quando cheguei ao Rio de Janeiro em 1970, não possuía ainda faculdade para interpretar a brutal mudança que ocorria em minha vida. Minha pequeninice no nordeste mineiro foi traumática. Não me sinto feliz em recordar este período de minha vida. Mas no Rio, mais precisamente na baixada fluminense, o que me recordo com muita precisão era o calor que nos fazia suar em “bicas”.

Minha mãe puxava 6 filhos, 5 homens e uma mulher. A bagagem era o que menos importava. Aconteceu um episódio na estação de Japeri do qual me recordo com certo humor: lembro-me que ao descer do trem que fazia Minas-Rio teríamos que embarcar noutro que nos levaria ao bairro de Austin, em Nova Iguaçu. Ao fazer esta baldeação parte embarcou no trem e parte ficou na estação. Foi uma gritaria de assustar a todos. Sorte que o maquinista condutor da composição ouviu o burburinho e parou o trem para que os que ficaram na estação pudessem embarcar.

Da minha infância já na região metropolitana do Rio de Janeiro tenho boas recordações. Posso relatar algumas brincadeiras que os meninos da minha idade participavam. Nada tecnológico. Nossos carrinhos eram feitos com um pedaço pequeno de madeira, uma latinha de sardinha aberta na parte superior e rodinhas feitas com cabo de vassoura. Quem fazia? Nós mesmos. Um terreno baldio ao lado da minha casa nos servia de campinho. Muito pequeno, já que as condições não eram boas. Ao redor do campo a vegetação aguçava nossa imaginação. Tanto que aos fundos do campinho fizemos uma barraca que só cobria a visão, já que a cobertura era feita com o próprio capim e permitia a passagem de água da chuva. Mas aquela minúscula cabana foi fundamental para as nossas criativas histórias que eram narradas ao iniciar as noites de lua cheia.

A lua fazia nossa rua parecer um chão prateado. Visto de cima, era um viés branco que cortava uma escuridão. Não tinha luz elétrica, mas a brancura da areia que cobria a rua era suficiente para manter uma certa claridade permitindo o vai-e-vem das pessoas sem correr o risco de um sinistro. Foi ali que assustamos muita gente. Peraltas e inconseqüentes, amarrávamos uma linha numa “tira” de pano e puxávamos, fazendo parecer uma cobra atravessando a rua. Algumas vezes nos denunciávamos às gargalhadas face ao inusitado do acontecimento. A cabana de capim foi palco de rodas de “contos fantasmas”. Nas noites muito escuras, fazíamos lanternas com lata de leite em pó e pequenos pedaços de velas. Como era isso? Do lado da tampa da lata ficava aberto. No fundo da lata, furávamos completamente com prego. Com arame fazíamos a alça. Dentro da lata, um pequeno pedaço de vela aceso projetava um clarão fantástico, era o que nos iluminava no interior da cabana de capim.

Com esta mesma lanterna saíamos a capturar rãs nos alagados em dias de chuva no verão tipicamente carioca. Muitos dos bonecos que se tornavam nossos super-heróis eram criados por nós mesmos. Uma bolinha de gude (vidro), um pedaço de pano e pequenos gravetos se tornavam cabeça, vestes e membros. Dessa nossa imaginação, muitas brincadeiras esgotavam nossas energias mas nos tornavam felizes crianças.



Não quero narrar a parte que me faz querer esquecer minha infância a partir de 1970. Parte que não faz parte das crianças de hoje. Aliás, nada do que vivi na minha infância faz parte da infância das crianças hoje. O que determina essa brutal diferença é exatamente isto: se uma criança quer um super-herói basta ir ao bazar de utilidades e comprar um. Quer um carrinho? Vai lá e compra um que já vem com outros dois complementares. Quer ouvir uma história? Liga a TV e... Ops!...

Tem uma dupla de meninos que apresentam uma programação supostamente infantil na TV, promovendo brincadeiras entre aqueles que ligam para a emissora, oferecendo prêmios aos participantes que oscilam de alguns bonecos à celulares e PlayStation. Eu já paguei uma conta de telefone em que mais de 120 reais foi minha pequena Eduarda de 5 anos tentando falar com aqueles dois instrumentos da exploração da inocência infantil. Como não foi possível impedir que ela assistisse ao programa, bloqueei o telefone para evitar sustos como este.

Além deles, uma série de desenhos animados saltitam nas telinhas. Uns bonequinhos supostamente orientais gritando, pulado, sacando espadas e matando os inimigos. Daí uma psicóloga diz que o garoto quando desenha uma espada enorme está tentando competir com o pai a preferência da mãe, o que segundo Sigmund Freud caracteriza o complexo de Édipo. Coisa nenhuma. Ele desenha uma espada enorme porque é o que ele vê na TV o tempo todo. Logo, se o que é grande é superior, ele tenta desenhar uma bem grande para não ser inferior ao seu imaginário inimigo.

Bem, para finalizar, há que se comparar as características de cada período e ver que em ambos os pais estão ausentes. Entretanto, no primeiro período não tínhamos a influência da TV de modo negativo. As crianças tinham mais espaços para brincar e a escassez de brinquedos fazia cada menino ou menina um criador de seus entretenimentos. Já no segundo período tanto a TV quanto as facilidades de encontrar seus brinquedos diminuíram o campo imaginário das nossas crianças. Esse campo imaginário foi fundamental para que nós, as crianças do primeiro período, inventássemos nossas próprias histórias de amor, de terror, de aventuras... Hoje... Bem, já tentou tirar uma criança do vídeo game para lhe contar uma história?

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008


UM PEDIDO DE SOCORRO
por Rildo Ferreira
O rio é o Guandu. Um dos mais importantes do Estado do Rio de Janeiro. Sua missão é saciar a sede de mais de 5 milhões de cariocas residentes na região Metropolitana. Ele está doente. A poluição é a causa. Clique Aqui e manifeste o seu apoio ao rio Guandu.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

QUAL MODELO DE EDUCAÇÃO DEVE SER

APLICADO NA ESCOLA PÚBLICA?
Por Rildo Ferreira


A Escola Pública sempre foi alvo de muitas críticas. E não bastando os críticos de prontidão, exatamente estes que reproduzem os discursos de que a “educação privada é que é a boa e que a pública não presta”, os professores têm contribuído demasiadamente para que este conceito seja também um conceito da sociedade em geral.

Ora, para o entendimento claro do que estou dizendo vou resgatar e narrar fatos acontecidos em sala de aula. Eu, estagiário, participava de uma aula de Literatura para formandos do segundo grau. O assunto era substantivo. Depois de muita discussão a respeito do assunto, um dos alunos questionou ao professor quanto o emprego no dia-a-dia de um substantivo enquanto substantivo. Ora, o exemplo dele foi até engraçado. Disse ele, indagando: quando me perguntarem sobre o que é um elevador, quem me pergunta quer saber se eu sei o que é um elevador ou se eu sei que elevador é um substantivo? Ele concluiu que o que se estava estudando não fazia sentido para ele. Isso também fez sentido para mim.

Numa outra aula de matemática o professor tentava fazer os alunos entender o que era uma PA (Progressão Aritmética). Depois de algum tempo explicando o professor perguntou se a turma entendeu o assunto. Um aluno disse o seguinte (não exatamente assim, mas o sentido era este): professor, disso aí eu não entendi nada, mas se eu comprar pão com R$ 10 na padaria, sei exatamente quanto o caixa tem que me devolver de troco. E isso também fez sentido para mim.

Eu assim não estou dizendo que estes assuntos não são importantes. Mas o fato é que isso não está agradando ao educando. Ele não está aprendendo nada. Se for necessário decora e pronto. E isso não faz sentido para mim. Daí a discussão me leva a questionar sobre qual modelo de educação se deve praticar na escola pública. E não me venham com essa de que isso é uma decisão de governo porque não é. Trata-se de uma decisão que deve partir do educador e que começa no planejamento do ano letivo. Trata-se de uma decisão de atualização do próprio educador que deve procurar aperfeiçoar-se na práxis educativa. Trata-se de ver o próprio educador da necessidade de mudar a forma de relacionamento com o educando, buscando uma linguagem que faça sentido para ele.

Quando na sua vida você utilizou-se do conhecimento gramatical de forma consciente a tal ponto de perceber o que era sujeito, objeto direto ou complemento adverbial dizendo: Caramba! Acabei de dizer 'isto' e 'isto' é um objeto direto.? Senhoras e senhores, estamos tão presos à estes conceitos que esquecemos de fazer leituras com nossos meninos e meninas. Sabe aquelas estórias que eram lidas em sala de aula por capítulo e por aluno? São delas que eu me refiro. Elas já não fazem parte do planejamento escolar e não são praticadas em aula ou fora da sala de aula. Daí que o resultado da prova Brasil foi o que foi. Em 98% das cidades brasileiras a média ficou abaixo de 5 (a prova Brasil avalia até que ponto o aluno entende o que lê).

Bem, o debate está posto. Eis a questão: qual o modelo de educação deve ser aplicado na escola pública? Existe um modelo padrão? O que você tem a dizer sobre isto? Para comentar, clique aqui. Para ler comentários já postados, clique Aqui.