segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008




SOMOS RACISTAS ?
Por Rildo Ferreira


Preciso fazer uma comparação, o que para muitos pode parecer um esdrúxulo, mas que, no meu modo de ver, tem uma essência muito similar. Trata-se de reconhecer que todos fomos educados para sermos racistas, assim como um indivíduo doente de alcoolismo precisa reconhecer sua moléstia. E estou secamente dizendo que somos todos afetados por esta moléstia que conhecemos como racismo.

Ora, Von Martius Varnhagen, conhecido como heródoto do Brasil, com uma visão estreitamente lusitana escreve-nos: "Sem amor à pátria, essa gentes vagabundas... constituíam no entanto uma só raça, falavam dialetos de uma só língua. (Quanto aos negros) Para ele, os traficantes negreiros fizeram um grande mal ao Brasil entulhando as suas cidades do litoral e engenhos de negrarias" (Reis. 2001).

Com efeito, sob esta bandeira racista começou-se a escrever a História do Brasil. Logo, nossa educação foi uma educação racista. Os negros e nativos, por sua vez, buscavam suas defesas alimentando um racismo contra os brancos.
Eis que a comparação que faço é esta: o racismo está para todos assim como o alcolismo está para o alcoólatra. Se no alcolismo faz-se necessário reconhecer-se como um doente que precisa de ajuda e, portanto, o faz todos os dias em confissão de ser um alcoólatra para redimir-se da moléstia, nós, racistas que somos, precisamos nos reconhecer doentes de racismo confessando-nos todos os dias para evitar o primeiro ato de racismo. Nossa profissão de fé deveria ser: "Sou racista. Fui educado para ser racista. Ao reconhecer minha condição de racista, penitencio-me todos os dias com a lembrança de que sou racista para evitar um ato de racismo e assim não me permitir manifestações que ofendam, aviltam e desqualificam os que são diferentes de mim”.


REIS, José Carlos. As identidades do Brasil: de Varnhagem a FHC. 4ª ed. – Rio de Janeiro: FGV. 2001

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