segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A quem interessa o fim da CPMF ?
(parte 2)

Eu quero voltar a esse assunto pois o considerei muito importante como debate político entre aqueles que têm buscado informações na mídia alternativa, já que as mídias tradicionais mostram mais sua ideologia que qualquer razão ética para noticiar fatos.



Prova cabal do que estou falando foi publicado no jornal Folha de São Paulo do último domingo (16/12 – foto) onde estampa na manchete principal que 20 milhões de brasileiros deixaram a linha de miséria (classe D/E), mas atribui isso ao crescimento que o Brasil teve na economia. Ora, senhoras e senhores; o Brasil sempre teve crescimento polpudo sem, no entanto, possibilitar as famílias brasileiras melhores condições de vida.

O sub título diz que “melhoria de vida dos mais pobres se acelerou nos últimos 17 meses, fase de maior avanço econômico." Nada disso! Com toda a certeza essa melhoria se deu por conta dos 7,5 bilhões que a CPMF oferecia para o fundo de combate à pobreza (Fonte: Conversa Afiada*) onde 7,4 bilhões era aplicado no bolsa família e que os algozes da CPMF –e que muitos reproduzem nos seus discursos sem criticidade- dizem ser ilegal pois não eram aplicados na saúde. Meus amigos e minhas amigas, a miséria absoluta era a principal causa das romarias aos hospitais e postos de saúde públicos do país. Não há como negar que investir na melhoria da qualidade de vida é investir no setor da saúde pública. Logo, cabe-nos indagar: não era justo o investimento?

O colunista da Folha de São Paulo Kennedy Alencar** mesmo obediente ao editor da Folha escreveu em sua coluna do dia 17 que “o PSDB não sabia o que fazer com a "vitória política" que conquistou ao rejeitar a prorrogação da CPMF até 2011.” Porque ele chegou à essa conclusão? Ora, ele mesmo responde ao afirmar “O setor tucano que tem chance concreta de conquistar o Palácio do Planalto deseja contar com um mecanismo fiscal poderoso (grifo meu) como a CPMF.” Isso eu disse no artigo anterior. A CPMF permitia ao governo fiscalizar aqueles que sonegavam impostos e faziam trambicagem nas casas de câmbio, gastando muito mais do que ganham como proventos, portanto, dinheiro ilegal.

O mesmo colunista também reproduz um discurso da direita que manteve sua hegemonia até FHC afirmando que o governo precisa cortar gastos para suprir a ausência da CPMF. Com efeito, senhoras e senhores; onde o governo precisa cortar gastos na visão messiânica destes baluartes da moral e da honestidade? O propósito, ao meu ver, é levar ao fim e ao cabo um projeto de recuperação da hegemonia perdida para manter o pobre no seu devido lugar; no modo de pensar deles, na miséria.

O Conversa Afiada apresenta um outro dado muito importante sobre onde é aplicado a CPMF no caso da saúde. São 15,7 bilhões usados prioritariamente para consultas especializadas, exames de patologia clínica, raios-X, ultra-som, tratamento de câncer, hemodiálise, doenças cardíacas e respiratórias entre outras. Para a previdência, a CPMF contribuía com 7,9 bilhões que eram utilizados para o pagamento dos benefícios rurais garantidos na Constituição de 88. Esses são os gastos que o governo deve cortar para ajustar o Brasil segundo o interesse desta elite hipócrita. Permitam-me outra pergunta: é isto mesmo que você quer reproduzir nos seus discursos?

O Folha de domingo diz aquilo que o governo fez com suas políticas sociais, em grande parte com o dinheiro da CPMF, e atribui à um crescimento econômico que só foi possível graças às políticas sociais do governo. Ora, foram mais de 4 milhões de famílias que passaram a freqüentar supermercados, abatedouros, açougues e farmácias com os recursos oriundos do bolsa família. O mercado vendendo mais, passou a comprar mais. Comprando mais, a indústria teve que produzir mais e produzindo mais, gerou mais empregos que permitiu que outras tantas famílias tivessem melhorado sua renda que passou a consumir mais, que passou... Enfim, isso é um circulo virtuoso que o Brasil ganhou e permitiu um crescimento mais justo, onde o pobre pode pegar parte do crescimento e levar pra casa. É isso que esta elite tenta acabar. Como disse Mino Carta*** em seu Blog “...neste nosso Brasil brutalmente desigual quem milita na minoria branca quer levar vantagem. Sempre e sempre”.

Eu já me alonguei demais ainda com a sensação de que deixo o debate no seu começo. Mas espero que o leitor possa contribuir para o esclarecimento da questão: a quem interessa o fim da CPMF?

*) Conversa Afiada é o Blog do Jornalista Paulo Henrique Amorim
**) Kennedy Alencar é colunista da Folha Online
***) Mino Carta é jornalista e diretor de redação da revista Carta Capital

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessa a oposição, ao FMI, etc.

Assim quem sabe o abismo das realizações do governo Lula não fica muito evidente e teriam alguma chance em 2010.