Mais uma do Ghiraldelli Há algum tempo eu resolvi participar de um debate neste mundo virtual. Como eu estava produzindo muitos trabalhos acadêmicos, em grande parte deles eu procurava fundamentar com a literatura produzida por Paulo Ghiraldelli Júnior, este que se diz filósofo de São Paulo. Tivera eu o conhecido a mais tempo e jamais o teria lido, até mesmo em bibliotecas. O cara não tem pudor; não tem escrúpulos; não tem educação; e o que é pior, não aceita o diálogo adverso, demonstrando profundo desrespeito às pessoas que divergem dele. Leia +!
Paulo Ghiraldelli Jr.: "O MEC não pára de errar" Em artigo para a Folha de São Paulo o filósofo faz uma crítica ao Programa de Desenvolviemento da Educação (PDE) do governo federal. Em desacordo com o pensamento de Ghiraldelli faço uma crítica à critica e argumento que o PDE pode não ser o ideal, mas é o melhor e possível para o país neste momento histórico. Leia +!
Paulo Ghiraldelli Jr.: -"não sou burro!" O filósofo de São Paulo responde ao artigo por e-mail. Diz ser amigo do ministro Fernando Haddad da Educação e um "tipo de 'ombudsman' do PDE" no que mostrei-me em dúvida do que vem a ser um ombudsman considerando que sua crítica dá como certo o fracasso do PDE.Leia +!
O Chico Zona Sul e o Velho Guandu Neste artigo faço uma crítica ao caráter oportunista do deputado Chico Alencar (PSOL/RJ) que, aproveitando-se do destaque que a mídia reservava ao protesto do bispo Dom Luiz Cappio, o padre que fez greve de fome para impedir o projeto de integração da bacia do rio São Francisco, apareceu ao lado do ator Osmar Prado e da atriz Letícia Sabatela com faixa de protesto. Ele, o deputado, não faz o mesmo pelo rio Guandu, rio de quem se beneficia e que está morrendo.Leia +
Segundo dados da Comissão Europeia, as crianças representam 60% da população angolana, estimada em 12,5 milhões. Dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostram, por seu lado, que metade das crianças não frequentam a escola, 45% sofrem de má nutrição crónica, uma em cada quatro (25%) morre antes de atingir os cinco anos e que, apesar de a idade mínima para trabalhar ser os 14 anos, estima-se que 30% das crianças e adolescentes da minha terra, entre os 5 e os 14 anos, trabalhem. Angola tem (quase) tudo para ser um grande país e até, daqui a algumas gerações, uma grande nação. Deus, seja Ele quem for, deu a este espaço africano (tão mal dividido à régua e esquadro pelos colonizadores europeus) tudo o que era preciso para ser o maior entre os maiores. Também lhe deu, reconheça-se, um mosaico de povos capazes de valorizar mais o que os une do que o que os divide. Reconheça-se ainda, por ser um elementar acto de justiça, que lhe deu um colonizador melhor (é claro que com muitos defeitos) do que o atribuído a outros países da região.Tenho (tanto quanto isso é possível) a certeza de que o que Angola não teve, nem tem, é bons amigos. Verdadeiros amigos. Americanos e soviéticos (entre os dois venha o Diabo e escolha) apenas se prestaram a ajudar o país porque a troco de um chouriço recebiam um porco. A troco de armas recebiam barris de petróleo. A troco de minas recebiam diamantes. Hoje será, talvez, diferente. Mas todos os cuidados são poucos.Os amigos dos angolanos não são os que aparecem na Imprensa a oferecer carros aos sobas e muito menos os políticos que deixam o povo morrer è fome e compram quintas em Portugal. E não são porque, importa recordá-lo, esses são os mesmo que se orgulham de dizer que os seus cães merecem comer melhor (e comem mesmo melhor) do que os "kwachas". As minhas dúvidas em relação a Angola: Eduardo dos Santos, um presidente democraticamente mugabiano, continua a confundir a obra prima do Mestre com a prima do mestre de obras. Diz o presidente que «honrar e declarar o nosso amor por Angola assume um carácter solene e especial». É verdade. Mas isso não basta.As crianças que mendigam e morrem à fome nas ruas de Luanda também amam Angola. Amam-na e declararam esse amor. No entanto, Eduardo dos Santos, que tem pelo menos três refeições por dia, continua a nada fazer para lhes dar um prato de fuba.Rui Mingas (um dos homens do presidente) dizia que, «nos antigamente», os angolanos apenas tinham «peixe podre, fuba podre, 30 angolares e porrada se refilares». E hoje? Hoje continuam a levar porrada, mesmo sem refilar, e nem peixe ou fuba podre têm.«À força do povo angolano e à riqueza dos recursos naturais do nosso país, podemos juntar agora a serenidade que se instaura quando constatamos que nada mais pode pôr em causa o esforço colectivo para a construção do bem comum», afirmou Eduardo dos Santos.Baixinho, creio eu, Eduardo dos Santos deverá ter acrescentado: olhai para o que eu digo e não para o que eu faço. E o povo que aplaudia, certamente pensou: quem nos dera ter de comer.Sem desculpas, o Governo do MPLA teve tudo para mostrar do que era capaz. Não foi capaz de alimentar o povo e de dignificar os angolanos. Limitou-se a amamentar os poucos que tinham milhões, matando os milhões que têm pouco, ou nada. Consciente de que Angola quer mudar, de que Angola vai mudar, os donos do poder até equacionam a oportuniade salvadora de um qualquer conflito armado, por pequeno que fosse. É que se a democracia triunfar, o MPLA perde. Se a democracia triunfar Angola ganha. E Angola só ganha se o MPLA perder. Os poucos que têm milhões não vão abdicar de nada. A não ser que sejam obrigados, pela via eleitoral e na esperança que Eduardo dos Santos não diga, como o seu amigo Robert Mugabe, “que só Deus lhe pode retirar o poder”. Resta-me esperar pelas eleições para ver se o futuro nasceu ou se, mais uma vez, será vítima da interrupção voluntária típica dos regimes ditatoriais.
Orlando Castro é Jornalista e titular do blog AltoHama.